Fazer horas extras com o objetivo de aumentar a renda, colaborar para que a empresa produza mais ou até mesmo para melhorar o desempenho em busca de uma promoção pode gerar resultados contrários. Por esse motivo, é necessário mudar esse olhar de que mais tempo produzindo significa melhores resultados, pois o que se vê na maioria dos casos é justamente o contrário: queda na qualidade, no desempenho organizacional e na saúde do profissional.
Desde que a procura por qualidade de vida e a sustentabilidade se tornaram temas presentes dentro das empresas, a aplicação de práticas que visam diminuir o excesso de horas extras acabou por trazer pontos positivos aos negócios.
Seja por trabalhadores mais motivados ou devido às rotinas otimizadas, as vantagens de gerir de maneira eficiente as horas extras tornam esse objetivo extremamente atrativo. Portanto, é importante investir tempo, esforço e recursos para alcançá-lo.
As horas extras indicam mais produtividade?
O excesso de horas extras pode aparentar ganho de produtividade no curto prazo, no entanto, em médio e longo prazos o que se vê é uma queda no desempenho dos colaboradores. Por consequência, acaba influenciando negativamente nos resultados do negócio. Isso acontece pelos seguintes motivos:
Diminuição da qualidade de vida dos profissionais
Funcionários que costumam fazer muitas horas extras podem acabar desenvolvendo diversos problemas de saúde corporal e cognitiva. Entre os mais comuns, estão estresse físico e mental, esgotamento e fadiga do corpo, problema e lesões na coluna, aumento de peso, privação de sono, alimentação irregular, depressão, baixa auto-estima, insegurança entre muitos outros.
Todos esses problemas tendem a prejudicar a eficiência do colaborador, fazendo com que ele perca rendimento, motivação e até ânimo para desempenhar suas funções. Em situações mais graves, o excesso de horas extras e sobrecarga de trabalho tem sido ligado ao aumento nas taxas de suicídios entre os profissionais.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo The American Institute of Stress, o alto estresse gerado em situações desse tipo, além das funções mais estressantes por si só, pode estar relacionado a crimes praticados por funcionários nos ambientes corporativos. Também é possível verificar reações drásticas, como agressões verbais, choro e quebra de aparelhos devido ao nível elevado de estresse.
Aumento de despesas médicas e licenças
Com o desgaste da saúde dos colaboradores, a tendência é que eles passem a buscar ou necessitar com mais frequência de atendimento médico. Isso resultará em maiores gastos médicos, principalmente se a empresa bancar parte de convênios de saúde para os seus funcionários.
O número de afastamentos e licenças por razão de saúde também tende a se elevar, assim como faltas para consultas com diferentes profissionais da área médica e realização de exames. Assim, aquilo que foi conquistado durante as horas extras será perdido nas ausências desses profissionais. Ou seja, o saldo fica negativo.
Aumento de absenteísmo e rotatividade
Além das licenças médicas, as faltas constantes, atrasos frequentes e pedidos de demissões também significam ausência de funcionários em períodos normais de trabalho. O que, invariavelmente, pode causar sobrecarga para os colegas ou demora na execução de atividades rotineiras.
Isso pode ocorrer por várias razões, como insatisfação com o excesso de horas extras, os próprios problemas de saúde, conflitos pessoais decorrentes pela demora ou falta do profissional no ambiente familiar, etc. Em outras palavras, os altos níveis de absenteísmo e rotatividade podem significar que o excesso de jornada de trabalho é um grave problema dentro da empresa.
Diminuição na qualidade do trabalho
Costuma ocorrer uma diminuição na qualidade do trabalho de acordo com que as horas extras se intensificam, pois o cérebro humano não consegue manter o foco e concentração por muito tempo nas rotinas profissionais. Dessa forma, a produtividade pode ser afetada em termos qualitativos, especialmente quando as atividades exigem maiores níveis de raciocínio e perícia técnica.
Funcionários sobrecarregados podem perder o foco e ter maior dificuldade de concentração, o que prejudica o resultado final de muitas atividades. Algumas dessas podem até mesmo terem que ser refeitas, ou seja, gerando retrabalho ou necessitando da ajuda de colegas.
Diminuição no comprometimento com o emprego
A sobrecarga de trabalho também pode causar desmotivação, podendo até mesmo levar a um pedido de demissão, como já foi citado acima. No entanto, até lá o profissional pode começar a perder envolvimento e comprometimento com as tarefas e rotinas dentro da empresa, executando-as com baixo nível de qualidade apenas para se ver livre delas o quanto antes.
Como fazer uma boa gestão de horas extras?
Respeite a legislação vigente e a convenção do sindicato ao qual a empresa é ligada
O primeiro passo é buscar se inteirar sobre quais as regras e critérios que a legislação trabalhista vigente estabelece sobre as horas extras, além do que diz a convenção do sindicato à qual a empresa pertence. Hoje, os funcionários não podem trabalhar mais do que duas horas extras diárias, sendo elas após, antes ou nos intervalos do expediente profissional.
Vale destacar também que cada hora extra em dias úteis é remunerada com 50% a mais do que uma hora de trabalho normal. Além disso, no caso de horas extras em fins de semana e feriados, a conta deve ser multiplicada por 2, pois elas valem o dobro das horas comuns. Lembrando também que se a hora extra for depois das 22 h, existe ainda o adicional noturno.
Planeje e estabeleça uma política de horas extras
Após conhecer as leis relacionadas às horas extras, é possível implantar uma política de horas extras dentro da empresa. Assim, o controle delas poderá ser facilitado e até dá para se aderir algumas soluções mais interessantes para o seu gerenciamento. Por exemplo, o banco de horas.
A implementação de um banco de horas possibilita que a empresa dê folgas aos funcionários para compensar as horas extras acumuladas. No entanto, isso deve ser feito em até 12 meses no caso da existência de sistema de controle.
Se não houver esse controle, o colaborador pode receber folgas ou compensações (sair mais cedo ou chegar mais tarde) até a semana seguinte. Caso contrário, as horas extras deverão ser pagas até o mês posterior.
Outro ponto também importante é adequar as estratégias e necessidades de horas extras de acordo com a produção da empresa. Aquelas que possuem períodos de sazonalidade maior podem precisar de mão de obra por mais tempo em épocas de aumento de vendas. Nesse caso, as horas extras podem ser necessárias.
Implante um sistema de ponto eletrônico
A implantação de um sistema de ponto eletrônico pode colaborar para um melhor controle da quantidade de horas a mais cada funcionário está fazendo. Desse modo, é possível acompanhar aqueles que mais demoram no trabalho e estabelecer formas de diminuir isso em conjunto com eles.
Integre o controle com o RH
O RH geralmente é o responsável por controlar as horas extras nas empresas. Nesse sentido, determinar que toda e qualquer hora a mais deva receber autorização desse setor pode ajudar a identificar quais as necessidades reais delas, desde que os pedidos venham acompanhados de justificativas para a liberação da jornada extra.